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3. Metodologia de Pesquisa na EBD

  • cinolicosva
  • 28 de mai. de 2020
  • 9 min de leitura

Atualizado: 26 de jun. de 2020

Para pesquisadores da ciência da educação e pedagogos cristãos, métodos contemporâneos de ensino, como programas de estudo e pesquisa são aliados da igreja no cumprimento do fazer discípulos, de Mateus 28.19. Isso porque projetos pedagógicos podem estimular o desenvolvimento da capacidade de compreender as verdades e diretrizes eternas, inclusive em relação às questões novas não abordadas pelas Escrituras.

Fato é que a escola dominical difere muito da escola comum. O conteúdo estudado é a Bíblia (suas interpretações e aplicações): isso pode unificar - base curricular comum bíblica - mas também traz diversidade pois os currículos seguem as diretrizes das denominações. O currículo, quando estipulado pela denominação, pode deixar pouco espaço para um programa de pesquisa. Além disso, na EBD o professor tem apenas uma hora semanal na EBD para trabalhar com seus alunos. Logo, para desenvolver um projeto pedagógico de pesquisa há limitações. Essas são as dificuldades, mas elas não impedem a implementação da metodologia de pesquisa pois apesar das dificuldades, há muitas vantagens em se utilizar esse método.

Entre os incentivos e possibilidades para se trabalhar com projetos pedagógicos na EBD, antes de espelhar modelos, voltemos os olhos ao Senhor Jesus: Ele é o exemplo de mestre, um educador que ensinava o tempo todo e todo tempo com situações do cotidiano. Com os oráculos centenários dos profetas, com as histórias dos reis, heróis e desbravadores do AT. Pela observação e crítica do que não se deve copiar do comportamento das autoridades civis e religiosas. Ensinava abordando os pecados, tristezas, sonhos e esperanças dos incrédulos, da gente comum, dos piedosos, dos poderosos, dos sofridos, das crianças, dos estrangeiros, dos homens e mulheres de Deus. Essa deve ser a real motivação para se aplicar uma metodologia de pesquisa.

Quando os ensinamentos bíblicos ministrados na EBD saem do abstrato das ideias para o mundo concreto da prática, pode-se dizer que o indivíduo aprendeu. Afinal, a Bíblia não trata de simples ordenanças, mas de mudança de vida: de uma nova vida. O publicano Zaqueu sabia que roubar era errado, mas foi despertado de sua condição quando encontrou Jesus e só aí compreendeu que era necessário romper com seu antigo e pecaminoso modo de vida. Da mesma forma os discípulos de Jesus precisam sentir desejo de viver uma nova realidade e nova prática de vida. O termo grego metanoia refere-se a arrependimento e conversão (presente no texto Mateus 3.2 e 8). Já metamorfose expressa de transformação, mudança, de mente em Romanos 12.2. Ambos os termos são ações que resultam do ensino bíblico. O pecado do roubo e a necessidade de mudança é novamente apontado pelo apóstolo Paulo em Efésios 4.28: “Aquele que roubava não roube mais...”, Efésios 4.22-31. Nas cartas paulinas percebemos a ênfase no ensino sistemático dos valores do Reino: doutrina que provoca mudança. “Ponham em prática o que vocês receberam e aprenderam de mim, tanto as minhas palavras como as minhas ações...” Filipenses 4.9.

Como alcançar esse objetivo? Com os alunos sentados em postura rígida, irrepreensível? Com discursos do professor, ditados ou cópias? Com recitação de textos e versículos decorados? Ou desenhos e pinturas para distrair enquanto passa o tempo? Será que conteúdo dado é conteúdo aprendido? Essas técnicas de ensino nem sempre foram bem-sucedidas com resultados de aprendizagem efetiva (mudanças de comportamentos).

Na ‘Era da Informação’ praticar esse tipo de aula é praticamente infrutífero. Até mesmo um ato de sabotagem do próprio ato de educar e do imperativo de fazermos discípulos. É necessário fazer o aluno experimentar, contextualizar e interiorizar a verdade escriturística que gera metamorfose.


3.1. PROJETOS DE PESQUISA COMO PONTO DE PARTIDA PARA O APRENDIZADO

O dicionário Priberam apresenta a expressão, ‘procurar com diligência’ como definição do verbo pesquisar. Assim mais do que coletar informações, uma pesquisa é uma investigação, uma busca perseverante. A partir de uma indagação surge a pesquisa como ato e objetivo. O pastor Marcos Tuler define pesquisa como “um conjunto de atividades intelectuais que tem como finalidade a descoberta de novos conhecimentos. ... Pesquisar é procurar de forma cuidadosa, metódica, sistemática e em profundidade, com a intenção de descobrir dados, ou ampliar e verificar as informações existentes para acrescentar algo novo à realidade investigada”.

Os programas de ensino que utilizam a pesquisa e o protagonismo dos estudantes na construção de seu próprio conhecimento pressupõem envolvimento ativo do aluno, enquanto o professor é um facilitador, um mediador da aprendizagem. O aprendizado se dá através da investigação, reflexão, criação de textos, relatórios, construção de objetos/modelos e realização de atividades.

Essa metodologia desmistifica a eficiência do ensino bancário que, segundo Paulo Freire, consiste num fictício abastecimento da mente dos ouvintes (depósito) com o conhecimento do mestre detentor de sabedoria e cultura (transferência de conhecimentos).

Alunos não são folhas em branco, mas possuem uma bagagem de saberes e experiências. O conhecimento gera reflexão, transformação e ação. As interações entre colaboradores num projeto de pesquisa, maximiza a experiência de construção do conhecimento. O aprendiz muda e se torna agente transformador, pois os projetos promovem a aprendizagem pela participação ativa dos alunos.

A metodologia de pesquisa encontra apoio nas ideias do psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934). Ele afirmou que a aprendizagem é um processo social: o indivíduo aprende enquanto interage com outros sujeitos (colegas) e com mediadores (professores). A formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade, sendo um o transformador do outro. Os instintos naturais (reflexos) são respostas mentais mais simples, enquanto a consciência, cultura e discernimento são processos aprendidos na interação com o outro e na superação das dificuldades. Vygotsky postulou que “o desenvolvimento das formas superiores de comportamento acontece sob pressão da necessidade; se a criança não tiver necessidade de pensar, ela nunca irá pensar”. Dessa forma, o aprendizado não depende exclusivamente de inteligência (talento) e de estruturas orgânicas em perfeitas condições pois o desenvolvimento cultural (que é adquirido socialmente) supera as deficiências. Além disso, a intervenção pedagógica do professor mediador provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. O aluno, como portador de saberes e experiência, é confrontado pelos conceitos expostos pelo professor. Faz associações e adquire novas concepções. Nessa dinâmica interacionista nasce o impulso que promove saltos no nível de conhecimento.

Na década de 70, metodologias de pesquisa, entre eles ‘Resolução de Problemas’, ‘Método de Redescoberta’ e ‘Pedagogia de Projetos’ ficaram populares. O que eles têm em comum? Propostas de trabalho elaboradas por alunos e seus professores gerando maior integração entre os envolvidos. Consequentemente maximiza o aproveitamento e crescimento de todos. John Dewey entendia que através de projetos pedagógicos a sócioconstrução do conhecimento se potencializa.

Em seu livro, Projeto Pedagógicos Dinâmicos, Paty Fonte escreve: “Se a metodologia baseada em projetos é mais atraente aos alunos, igualmente estimula aos professores, movimentando-os... a interdisciplinaridade ocorre naturalmente, gerada por uma necessidade real. ... [Mas] não adianta elaborar projetos maravilhosos de se ver, porém distantes da realidade que se ensina nas escolas, ou mesmo desligados dos assuntos escolares. [Pedagogia de Projetos] pode não ser a solução para todos problemas educacionais, mas certamente, é um grande avanço, uma mudança significativa, que dá conta de alguns objetivos educacionais: desenvolvimento da autonomia intelectual e da organização individual e coletiva, bem como a capacidade de tomar decisões”. Aqui percebemos que intencionalidade (intenção do professor em focar os objetivos e disposição do aluno em aprender) é a força motriz do projeto pedagógico


3.2. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA ESCOLA DOMINICAL

Na EBD, a metodologia de pesquisa pode ser trabalhada através de projetos colaborativos. Trata-se de empreendimentos educacionais com objetivos pré-definidos que envolvem uma ou mais classes incluindo os conteúdos abordados em sala de aula. Quando a EBD segue o currículo pré-estabelecido pela denominação o tema da pesquisa pode ser inspirado pelo conteúdo programático. Noutros momentos, pode ser extracurricular quando aborda assuntos que não acompanham o conteúdo em curso. O período dedicado ao ensino bíblico semanal na igreja é pequeno enquanto as atividades envolvidas no método de projetos são diversificadas e envolventes. Isso torna o trabalho essencialmente extraclasse. Assim, um projeto pedagógico pode se estender por um trimestre, semestre ou ano.

Dificuldades para implementação dessas metodologias no programa educacional da igreja existem. Os críticos desses métodos veem desvantagens nessas iniciativas. Fato é que a adoção de qualquer método deve ser realizada aos poucos com criticidade e cautela. Sua aplicação na EBD deve ser alternada para não “enjoar” ou cansar os alunos (bienalmente, por exemplo). É interessante mesclar com currículos mais tradicionais ou teóricos, tendo em consideração que não há unanimidade de aceitação desses programas como uma fórmula ideal para educação. Geralmente ocorre um período de descrença na efetividade do programa de pesquisa. É preciso respeitar as dúvidas e inseguranças do grupo. Os resistentes só cederão quando entenderem a importância da metodologia de pesquisa para aprendizagem individual e seus resultados coletivos. É um processo de maturação no qual o Espírito Santo trabalha gentilmente.

3.3. MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS?

A mudanças são inexoráveis: não cessam e vieram para ficar. Mas nem sempre significam progresso, pois se a mentalidade não mudar, novas técnicas e/ou métodos apenas perpetuarão antigas práticas educacionais. Alguns alertas surgem quando se pensa em inovação na educação. Na obra ‘Marketing para a Escola Dominical’, César Moisés chama atenção para o imperativo da mudança “Se não soubermos sintonizar as necessidades dos novos tempos os fatos nos surpreenderão. As escolas dominicais que identificarem os sinais dos novos paradigmas do marketing atual para o seu crescimento têm muito mais chances de crescer”.

Ideias inovadoras podem parecer assustadoras ou desnecessárias se não forem bem compreendidas, ou um desperdício de tempo se não forem bem implementadas. Mas não se deve desistir de um empreendimento antes de testar e analisar suas possibilidades.

Avaliar sua práxis pedagógica deve ser uma atitude natural para o professor. No cotidiano da sala de aula, o método, enquanto forma de administrar o conteúdo, é frequentemente subestimado. Conta-se uma fábula que ilustra bem essa questão: Certa vez uma idosa resolveu criar uma cachorrinha a qual se tornou sua companheira e protetora. Porém, o animal adoeceu. A senhora soube que óleo de fígado de bacalhau resolvia o problema. Então passou a administrar uma colher de sopa do remédio ao bichinho todos os dias. Segurava a cabeça dele entre as pernas e forçava para que abrisse a boca. Na 12ª dose a cachorra bateu com o rabo no vidro e entornou o óleo. Enquanto a dona foi apanhar um pano para limpar, a cachorrinha começou a lamber a substância do chão. Observando a cena a velhinha percebeu que seu ‘pet’ gostava do óleo, só não gostava do método como era dado. O autor da alegoria é desconhecido, mas sua lição para nós é: reflita sobre sua práxis educativa e veja se não é hora de mudar o método de aplicação do remédio!

Nesse ponto, o leitor pode estar convencido de que os programas de investigação são uma possibilidade para oxigenar a EBD ou estar cético sobre a eficácia e desafios de se introduzir uma metodologia desse gênero. Verdade é que dificuldades se impõem quando se pensa em inovar e são várias: resistência às mudanças, equívocos na implantação dos projetos, suposição de gastos com equipamentos e materiais didáticos onerosos, desmotivação generalizada, necessidade de acompanhamento das equipes de trabalho, apego a determinadas técnicas e recursos.

Por outro lado, em nossa era tecnológica, há quem considere a popularização da internet e artefatos eletrônicos como salvadores educacionais. Não se pode negar as benesses da internet para a educação moderna. A diversificação de plataformas interativas de comunicação trouxe novas possibilidades de difusão de conteúdo bíblico, porém há também muito material herético. O contato humano e a relação dialética da sala de aula não é suprida pela conexão virtual. Slides ou vídeos não substituem o toque em uma árvore, por exemplo. Levar o aluno a tocar uma planta e refletir que Jesus é a videira, nós os ramos que se alimentam de sua seiva, João 15.1, pode dar mais resultados emocionais do que observar fotos.

Há discussões sobre o papel dos recursos tecnológicos no ensino-aprendizagem que partem dos próprios inventores de smartphones, tablets e aplicativos, conforme noticia o artigo, ‘Os gurus digitais criam os filhos sem telas’. Deixando de lado o radicalismo ou o liberalismo diante dos dispositivos eletrônicos, em busca de equilíbrio, pensemos: como Jesus ensinaria se fosse contemporâneo nosso? O equilíbrio se encontra na criticidade e ponderação sobre a melhor forma de usarmos os recursos disponíveis. Ser antenado(a) em tempos de multiplicação de novidades é um desafio. Deixemos os alunos serem os atores de seu próprio aprendizado, eles terão ideias, o professor tem as suas também. Afinal, projetos pedagógicos permitem que plantas e aparatos tecnológicos, lado a lado, produzam experiência e conhecimento.

Jesus era um mestre como nunca se viu. Ele vivia o que ensinava, amava seus discípulos e cumpria a vontade do Pai. Por isso seu ensino era tão vasto em recursos didáticos que fazia brotar verdadeiro aprendizado. Conviver com Ele era sinônimo de ser ensinado, confrontado, desafiado, impulsionado. A vida com Ele era um projeto pedagógico em constante desenvolvimento. Sem dúvidas, Ele revolucionou o ambiente educacional da época pois ensinava com autoridade, não como os escribas, e a multidão se maravilhava de sua doutrina, Mateus 7.28 e 29. Uma mudança bem-vinda!

Mudanças trazem possibilidades e ansiedade, a equipe gestora e o professor devem conduzir tudo com oração. Só assim o Espírito Santo conduzirá a EBD do século XXI como agência educadora relevante e transformadora nesses tempos trabalhosos. Principalmente em meio às distrações, sofismas e apostasias, típicas de nossa época.








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