1. Introdução
- cinolicosva
- 29 de mai. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2020
Educação pode ser definida como: 1- Processo civilizatório do indivíduo; 2- Instrução cultural e/ou técnica, através da ministração de conteúdos.
Já a expressão ‘Educação Cristã’ tem significado mais profundo. Transcende a aprendizagem de bons hábitos e boas ações. Vai além da aquisição de saberes. Educação que é cristã provê informação, formação, mas também transformação. Possui caráter sobrenatural pois muda o homem interior, de dentro para fora. É bibliocêntrica e cristocêntrica. É bom enfatizar que acontece sempre que cristãos atendem ao mandato de fazer discípulos, seja qual for o lugar.
Apesar disso, o foco deste livro estará na Escola Dominical e nas iniciativas educacionais que ocorrem no ambiente da igreja (templo). A Escola Bíblica Dominical é a agência de ensino das igrejas protestantes mais antiga e sólida. Presente na maioria das comunidades evangélicas, a EBD não é um departamento secundário. É uma instituição amplamente difundida e aceita. Há formatos semelhantes em diversas tradições, religiosas ou não, demonstrando que a instrução organizada, segmentada, curricular tem reconhecido valor para o ensino religioso. Exemplo: Escola Sabatina, no Adventismo (sábado pela manhã); Estudos para crianças kardecistas (sábado à tarde); Cursos Católicos Preparatórios para a 1ª Eucaristia e Crisma (durante a semana) e a Escola Dominical Ateísta.
A Escola Bíblica Dominical está inserida no amplo contexto educacional da educação cristã. A relevância da EBD como principal ferramenta de ensino na igreja é indiscutível. Em razão de a igreja estar intrinsecamente associada à educação cristã, a EBD, como departamento principal de ensino, não é opcional, mas essencial, pois incrementa e dinamiza todas as atividades e iniciativas educacionais e evangelísticas dos demais setores da igreja.
Tradicionalmente realizada no domingo pela manhã - na maioria das comunidades eclesiásticas - a EBD é o espaço para estudo sistemático das escrituras. Sua origem pode ser traçada desde a época do cativeiro de Israel na Babilônia com o surgimento das sinagogas. Após o retorno do cativeiro, já em Jerusalém, Esdras, escriba versado na Lei, Esdras 7.6, juntamente com o governador Neemias e vários levitas ministravam ao povo. O capítulo 8 de Neemias registra: “Esdras levou o livro para o lugar onde o povo estava reunido: os homens, as mulheres e as crianças que já tinham idade para entender … e o povo estava no seu lugar e ensinavam o povo na Lei. Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações de maneira que entendessem o que se lia”, versos 2, 7 e 8.
A configuração atual, com classes dominicais, surgiu a partir da iniciativa do advogado inglês Robert Raikes, no século XVIII. Ele se propôs a lecionar matérias básicas da educação formal associada à instrução bíblica para crianças carentes. O primeiro efeito visível do ensino bíblico dominical foi redução da criminalidade. De fato, a Bíblia traz respostas para as perguntas do ser humano. É escudo contra as tentações, esperança diante das adversidades e passaporte para o céu. Dessa forma, o empreendimento se consolidou e várias classes foram inauguradas em diversas localidades da Inglaterra e no mundo. Foi dessa forma que a EBD se consagrou como principal entidade educacional da igreja de Cristo.
Mas os tempos mudaram. Uma pergunta muito comum entre os professores e superintendentes da Escola Bíblica Dominical é: – Como fazer a EBD seguir “competitiva” em nosso tempo? Por competitiva se entende relevante, interessante, atraente, agradável e bem frequentada. Competitiva em relação às diversas atividades alternativas que se apresentam no domingo, como atividades de lazer, familiares ou descanso. Com o advento das tecnologias de comunicação de massa, onde a informação flui com a velocidade de gigasbites muitos cristãos trocam a tradicional EBD presencial nos espaços públicos por palestras virtuais.
Pensemos: o que leva uma pessoa a frequentar a EBD por livre e espontânea vontade? Há motivações internas (desejo de aprender, compromisso, relação amigável com professor e colegas) e externas (fatores ambientais, práxis docente, currículo,...) para que alguém seja aluno assíduo da EBD. Os elementos exteriores podem ser modificados e/ou adequados às necessidades e anseios do corpo discente da EBD. Já os internos devem ser gerados, estimulados no estudante.
Quanto aos aspectos que promovem estímulo externo para que alguém frequente a EBD, é importante lembrar:
1- ELA É ESSENCIAL
Em conjunto com outras iniciativas educacionais e espirituais, sustenta, alimenta e fortalece a igreja de Cristo. Isso porque seu formato característico em classes (por divisão etária, grupos de interesse, estado civil, de gênero) propicia senso de pertencimento, fortalecendo as relações entre os membros do grupo e criando identidade.
2- SUA ORGANIZAÇÃO
A EBD precisa ser organizada em espaços físicos adequados. Se não houver salas de aula para todas as classes, pode-se fazer modificações temporárias no espaço comum, como a nave do templo, com divisórias removíveis ou rearranjo dos bancos. A classe única descaracteriza a escola.
3- A EQUIPE
A EBD da pós-modernidade deve ter uma equipe preparada e conectada de docentes e colaboradores, profissionais ou não da educação. São eles: conselheiros, coordenação pedagógica, bibliotecário, merendeiros, psicólogos, gestores, tesoureiros, etc. Para garantir a qualidade pedagógica, bíblica e espiritual, é importante pensar como são selecionados os professores e outros membros da equipe. Por aptidões? Por conhecimento? Por conveniência ou função eclesiástica? De qualquer forma, a capacitação é o melhor expediente para garantir uma boa atuação de cada integrante da equipe.
4- O CURRÍCULO
O currículo (palavra de origem latina que expressa ideia de ‘correr o caminho’) deve acima de tudo ser bíblico e cristocêntrico. Pode parecer redundante, mas é necessário salientar a importância desses requisitos para se fazer uma educação verdadeiramente cristã, em contraste com o ensino meramente religioso. Precisa, também, atender às necessidades da igreja e anseios dos alunos. Há assuntos polêmicos e urgentes, outros específicos para a congregação em que a EBD está inserida. A contextualização dos assuntos é essencial para a igreja. O currículo pode privilegiar temas, disciplinas, interpretações ou ser mais fundamental ao estudar os livros da Bíblia e suas doutrinas. É importante que a equipe pedagógica busque utilizar o currículo disponibilizado pela denominação, à luz das necessidades da comunidade local.
5- METODOLOGIA
Um bom currículo depende também dos métodos e recursos empregados. Material e ferramentas (tecnológicas ou não) adequadas a cada aula são itens que maximizam a aprendizagem e redundam em sucesso educacional. Estimular a participação aumenta a compreensão e a aplicação da mensagem. É necessário envolver o aluno na sua própria aprendizagem, tirando-o da passividade. Os assuntos bíblicos ministrados devem contar com metodologia que acompanhe o modo de vida e de aprendizagem provocando interiorização das verdades cristãs e mudança de comportamento.
6- ELA É ATUAL
A relevância da EBD para a sociedade é evidente já que o objeto de estudo, a Bíblia, é imprescindível para a humanidade. Ela não está ultrapassada ou obsoleta. Seu conteúdo é atual, mas eventualmente precisa ser contextualizado. Contextualizar significa integrar num contexto. Jesus deu exemplo: contextualizou suas palavras buscando melhor transmitir a mensagem pois estava preocupado com a redenção das almas. Também o apóstolo Paulo declarou: “Procedi com os judeus como judeu, a fim de ganhar os judeus ... Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”, I Coríntios 9.20 e 22 ARA.
Em tempos de hedonismo sobram discursos motivacionais de valorização do ego. Vozes que clamam por disciplina e compromisso enfrentam resistência. Porém, amenizar as verdades bíblicas não é opção. Deve-se explicar o conjunto dos textos (aspectos culturais) e aplicá-los de acordo com as necessidades adaptando aos assuntos não antevistos na Bíblia (como uso da TV, por exemplo). A mensagem do evangelho é severa e não pode ser alterada, se o fizermos o preço será cobrado de nós, Ezequiel 33.1-9. Precisamos ensinar que pecado continua sendo pecado ao invés de focar exclusivamente na cura de traumas e problemas. Regeneração, justificação, arrependimento e conversão são tópicos urgentes. Alívio, prosperidade e felicidade serão acrescentados mais tarde. Quando o leitor da Bíblia aprende as verdades rigorosas das Escrituras a reação pode ser de espanto e até rejeição. Ao descobrir a coerência da Palavra de Deus fica mais fácil para a pessoa sintonizar com a intenção do Pai quando comunicou leis, pronunciou ordenanças e proferiu juízo sobre os pecadores. Vivenciar o contexto bíblico produz uma sensibilização e certamente maior compreensão dos decretos do Senhor.
É decepcionante perceber que muitos cristãos apresentam um cristianismo raso, cujo enchimento são frases desconexas, versículos bíblicos mutilados e até superstições. Memorização e jargões religiosos podem habitar a razão, podem até gerar bons meninos com bom comportamento. Mas se não aprofundar no coração, transformando o ser interior em nova criatura, será apenas mais um discurso religioso. Como afirmou César Moisés no livro ‘Uma Pedagogia para a Educação Cristã’, “teoria desprovida de contexto gera farisaísmo”.
Partindo dessas premissas, as propostas que seguem são estratégias para o ensino bíblico. Não pretendem ser a solução para os problemas que a EBD enfrenta. Livros sobre educação cristã apresentam ideias. Não se estimula a cópia de métodos ou estilos, mas de saber o que funcionou em outras igrejas para que líderes e professores sintam-se inspirados a experimentar em seu próprio círculo educacional.
A maior estratégia de Jesus era a oração pelos que o Pai havia lhe confiado. Que o líder, apresente ao Senhor os discipulandos e os alunos que ainda virão. A fé não é meramente cognitiva: é esperança e dependência de Deus. Então ore antes de preparar as aulas, antes das reuniões pedagógicas, antes de implementar estratégias. Prepare-se, planeje, esteja à disposição pois a seara é grande: há muito o que fazer até que Ele volte. "Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez”. Apocalipse 22.12. Até lá, é preciso garantir que a próxima geração conheça ao Senhor e que seja apta a transmitir esse conhecimento à posteridade.






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