4. Projetos Pedagógicos na EBD: Natureza e Objetivos
- cinolicosva
- 27 de mai. de 2020
- 10 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2020
4.1. CONCEITUAÇÃO
Projeto colaborativo é um empreendimento educacional que tem como principal característica a investigação de um tema ou assunto pelos alunos e professores (afinal professor sempre será aprendiz). O importante é que o assunto interesse a todos, para se ter engajamento. Projetos, por sua diversidade de atividades, atraem estudantes com qualquer tipo de estilo de aprendizagem e garantem a participação da grande maioria dos alunos.
4.2. PARTICULARIDADES
Que fique claro: projetos pedagógicos são um método para promover o conhecimento das sagradas letras que pode nos fazer sábios para a salvação, II Timóteo 3.15. Portanto, a técnica de projetos não deve ser uma bandeira (algo a se mostrar, que tipifica uma entidade), mas uma técnica para se expor a causa por trás da bandeira. A EBD tem como estandarte a Bíblia (porque ela testifica de Jesus, fala do amor do Pai e de sua justiça, ensina sobre a vida cristã, sobre o Espírito Santo), ou seja, sua causa é o discipulado. Diante da mesmice pedagógica que assola as EBDs, é tentador trabalhar com eventos (projetos) e fazer disso uma propaganda da instituição. Como se isso fosse o diferencial que destaca uma igreja dentre outras. Esse é um caminho perigoso porque leva ao orgulho e à prática de realizar eventos cujo fim está simplesmente em si mesmo.
No projeto se propõe e planeja as ações de pesquisa e tratamento da informação (produção de materiais e atividades que podem ser desenvolvidas) . Enquanto na escola regular os projetos são trabalhados na sala de aula, na EBD conta com apenas uma hora semanal, portanto algumas etapas serão reduzidas. Ainda que, de certa forma, perde-se a espontaneidade da livre escolha de assuntos, por outro lado se mantém o essencial da metodologia de pesquisa: o protagonismo do aluno, a diversidade de tópicos que podem ser explorados, a flexibilidade, a colaboração do trabalho em equipe, a interdisciplinaridade e a experimentação.
Durante os preparativos para a apresentação dos resultados das pesquisas os alunos sentirão necessidade de organizar sua fala para melhor se expressarem. Nesse instante, articulação do conhecimento e memorização são fundamentais. Afinal, em diversos momentos os alunos oferecerão explicações sobre a pesquisa. Isso é ótimo pois, de acordo com Elmer Towns, aprendemos também quando falamos.
4.3. OBJETIVOS DE UM PROJETO COLABORATIVO
O primeiro alvo da metodologia de pesquisa é propiciar aprendizado, despertando e satisfazendo a curiosidade dos estudiosos pela investigação e interação. Para isso é necessário que haja propósito e coerência no projeto. A intenção não deve ser realizar um evento, mas dirigir os esforços para o aprendizado, tendo em vista que o objetivo final da educação cristã não é acúmulo de conhecimentos bíblicos, mas tornar o discípulo mais parecido com o Mestre. Para Clancy Hayes, esquecer essa prioridade é semelhante a observar uma “pessoa aprendendo a ler um mapa, lendo registros de viagens sobre o lugar que deseja visitar e até indo à internet para ter uma visão, mas nunca fazendo, de fato, a viagem.”. A sabedoria é o alvo do inteligente, Provérbios 17.4a.
Um fator que é tanto desafio quanto aliado no ensino é a RELEVÂNCIA: O que aprenderemos serve para que? Podemos encontrar essa resposta a partir de outra pergunta: No passado, os escritos, as experiências, as histórias bíblicas, serviram a qual propósito? O que as Escrituras dizem sobre meus problemas, minha situação? Como aplicar a Bíblia aos trending topics do momento?
Cada pessoa aprende do seu jeito: através dos sentidos (audição, visão, olfato, paladar e tato), em movimento ou não, pesquisando, refletindo, escrevendo, organizando as ideias pela fala, (repetindo, perguntando) construindo. Nos projetos pedagógicos os estudantes podem fazer todas essas coisas, focar no seu jeito ou experimentar outros artifícios. Quanto mais elementos agregamos, maior chance temos de aprender. Os sentidos trazem emoção. Dão ‘liga’ ao conhecimento. Basta ler o entusiasmo do apóstolo João ao descrever o fato de ter visto e tocado o próprio Deus, João 1.1-4 e I João 1.1.
4.4. O PLANO DE AÇÃO
É um documento escrito com a descrição detalhada dos objetivos, tema e tópicos, datas e local, bem como outras informações, pode ser elaborado em conjunto com os alunos, com docentes ou planejado pela equipe pedagógica. Dependerá do grau de maturidade da comunidade escolar, da antecipação com que se prepara o projeto e disponibilidade de todos para as reuniões. Os fatores que influem no debate e planejamento são vários, é preciso avaliar a melhor forma de executar o projeto, sem perder de vista os objetivos pedagógicos.
Para a escolha do tema, um fator importante é refletir sobre o momento em que a comunidade eclesiástica vive. Anseios locais e até fatores externos podem influenciar o interesse geral. O estilo de abordagem (forma de trabalhá-lo) também colabora para o bom aproveitamento do projeto. As propostas que surgem, mas não são utilizadas, podem ser guardadas num banco de ideias, para futuro aproveitamento.
Elementos básicos que compõem o projeto devem ser explicitados no documento a ser distribuído para a liderança da igreja, os responsáveis pela organização do evento, líderes dos grupos de estudo e professores. São eles:
a) Tema e distribuição para os grupos
b) Objetivos
c) Faixa etária dos envolvidos
d) Prazo de execução
e) Data e local de apresentação dos resultados
4.5. O TEMA DA PESQUISA
Pode-se trabalhar com um único tema para todos os grupos, um assunto gerador onde cada equipe trabalha uma particularidade, ou multiplicidade de temas.
O aspecto mais empolgante de um projeto pedagógico é que ele produz resultados únicos e surpreendentes. Isso porque devido às particularidades de cada grupo por sua composição heterogênea, as ideias desenvolvidas, as discussões e as experiências pessoais de cada indivíduo trazem riqueza, diversidade e crescimento. Essa intenção será alcançada se houver espaço para negociação e flexibilização nas atividades.
O importante é não perder o foco. Por exemplo: ao se estudar a prática medicinal nos tempos bíblicos, pode-se permitir uma busca por remédios contemporâneos que se assemelhem aos da época (colírio, bálsamo), porém deve-se ter o cuidado de excluir instrumentos modernos que não existiam antigamente (como estetoscópio ou seringas). Outro equívoco comum é apresentar, por exemplo, espigas de milho como se fossem as espigas mencionadas na Bíblia (no Gênesis, no livro de Rute). Naquele tempo o cultivo dessa espécie nativa das Américas não era difundido na Ásia e Europa.
É conveniente, quando possível, trabalhar assuntos que estejam em voga para interessar também a comunidade na qual a igreja está inserida (notícias e tendências), Lucas 13.1-5.
4.6. PROFESSOR-LÍDER
Os professores são líderes naturais de suas classes. Durante o projeto essa regência se intensifica. Seu entusiasmo, colaboração e incentivo fazem toda diferença. Eles conduzem as reuniões, definem papéis, orientam as ações do grupo. São porta vozes da classe diante da equipe pedagógica. Quando o grupo de pesquisa contar com membros menores de idade ou portadores de necessidades especiais, o acompanhamento pelos guias da classe é ainda mais necessário, principalmente em atividades externas.
Por outro lado, se a classe contar com apenas um docente e o professor não tiver disponibilidade ou disposição em participar do projeto, ele será um fator limitante às atividades do grupo de pesquisa. É importante que outro mentor assuma a responsabilidade administrativa para que os trabalhos avancem, afinal, sem diretrizes o grupo desanima. Uma boa resolução é ter vários consultores, conforme Provérbios 11.14.
4.7. PAPEL DA EQUIPE PEDAGÓGICA
Orientação e supervisão garantem direcionamento aos objetivos e coesão das ações de pesquisa. Os grupos de trabalho precisam de discussões, compartilhamentos, confrontamento de ideias, supervisão dos trabalhos de produção. A liderança trabalha em conjunto com os professores, encorajando as iniciativas dos alunos, estimulando a curiosidade e a responsabilidade.
Sugerir, disponibilizar e avaliar diferentes fontes de informações dos pesquisadores é vital para otimizar a difusão do conhecimento e prevenir consulta a materiais imprecisos e até heréticos. Os projetos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há muitos conselheiros, Provérbios 15.22. Estratégias de pesquisa que surgem nos grupos (como visitas a bibliotecas, exposições e outros espaços acadêmicos) podem beneficiar outras classes. A equipe pedagógica funciona também como catalizador e vetor da comunicação entre grupos.
A avaliação da ação pedagógica não deve ser pós-evento, mas durante todo o processo, assumindo caráter preventivo, minimizando a possibilidade de lapsos. Reuniões periódicas da equipe pedagógica são importantes para atualização do andamento dos trabalhos em cada grupo de pesquisa e para trabalhar os obstáculos que surgem, cabe à liderança contorná-los.
4.8. PROJETOS DE PESQUISA NA BÍBLIA
O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, Provérbios 1.7.
Compõem o cânon sagrado os livros de dois investigadores zelosos que exemplificam a pertinência da pesquisa: o rei Salomão no AT e o evangelista Lucas no NT.
O rei Salomão pediu a Deus sabedoria para governar o povo, e recebeu medida transbordante, I Reis 3.9, Tiago 1.5. Era filósofo, tinha habilidades musicais e foi um naturalista diligente com suas descrições e compilações: basta ver o livro de Cantares com sua riqueza de descrições da fauna, flora e minérios. “Deus deu a Salomão sabedoria, discernimento extraordinário e uma abrangência de conhecimento tão imensurável quanto a areia do mar. A sabedoria de Salomão era maior do que a de todos os homens do oriente, bem como de toda a sabedoria do Egito. Ele era mais sábio do que qualquer outro homem, mais do que o ezraíta Etã; mais sábio do que Hemã, Calcol e Darda, filhos de Maol. E a sua fama espalhou-se por todas as nações em redor. Ele compôs três mil provérbios, e os seus cânticos chegaram a mil e cinco. Descreveu as plantas, desde o cedro do Líbano até o hissopo que brota nos muros. Também discorreu sobre os quadrúpedes, as aves, os animais que se movem rente ao chão e os peixes. Homens de todas as nações vinham ouvir a sabedoria de Salomão. Eram enviados por todos os reis que tinham ouvido falar de sua sabedoria”, I Reis 4.29-34. A sabedoria de Salomão veio do céu, mas sua cultura e conhecimento vieram da sua atitude científica: curiosa e diligente.
O livro de Eclesiastes, de sua autoria, em sua composição assemelha-se a um trabalho científico, apresentando metodologia de pesquisa, resultados e conclusões.
Abaixo seguem alguns itens próprios de um projeto de pesquisa encontrados no seu livro:
a) Intencionalidade: Então passei a refletir na sabedoria, na loucura e na insensatez, Ec 2.12
b) Flexibilidade: Descobri ainda outra situação absurda debaixo do sol, Ec 4.7
c) Tema: O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do sol?, Ec 1.3
d) Pesquisa: Quando voltei a mente para conhecer a sabedoria e observar as atividades do homem, Ec 8.16
e) Objetivos: Por isso dediquei-me a aprender, a investigar, a buscar a sabedoria e a razão de ser das coisas, para compreender a insensatez da impiedade e a loucura da insensatez, Ec 7.25
f) Bibliografia: Não há limite para a produção de livros, e estudar demais deixa exausto o corpo, Ec 12.12
g) Foco: Procurou também encontrar as palavras certas, e o que ele escreveu era reto e verdadeiro, Ec 12.10
h) Apresentação das descobertas a outrem: Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento, Ec 11.9
i) Conclusão: Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem, Ec 12.13; Assim, descobri que o melhor e o que vale a pena é comer, beber, e desfrutar o resultado de todo o esforço que se faz debaixo do sol durante os poucos dias de vida que Deus dá ao homem, pois essa é a sua recompensa, Ec 5.18
Já o médico Lucas evidencia sua inclinação acadêmica em seus escritos canônicos: O Evangelho de Lucas e a compilação conhecida como Atos dos Apóstolos. Os dois livros formam um conjunto de obras descritivas, bem detalhadas de tudo que Jesus começou a fazer e ensinar, até a prisão de domiciliar de Paulo que não o impedia de pregar abertamente o evangelho e sem impedimento, Atos 1.1; 28.31.
Na introdução do tratado lemos: “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra, Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio; Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado”, Lucas 1.1-4
Vemos, nesses 4 primeiros versículos do livro, alguns atributos de um projeto pedagógico:
a) Intencionalidade: Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los, vv. 3;
b) Planejamento: por sua ordem, havendo-me já informado, vv. 3;
c) Tema: narração dos fatos que entre nós se cumpriram, vv. 1;
d) Pesquisa perseverante: havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, vv. 3;
e) Objetivos: descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, vv. 3; ... Para que conheças, vv.4;
f) Fonte de pesquisa confiável: segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram, ... ministros da palavra, vv. 2
g) Foco: havendo-me já informado, vv. 3;
h) Apresentação das descobertas a outrem: Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado, vv. 4;
i) Originalidade: gerou um documento com pontos convergentes com as outras narrações (Evangelhos sinóticos de Mateus e Marcos, também o de João). No entanto percebe-se características próprias, inclusive parágrafos exclusivos (inéditos): Lucas capítulos 1 e 2 (quase todo); 7.36-8.3; 10.25-42; a maior parte dos capítulos 11-19; e ainda, capítulo 23.39-43.
Fomos beneficiados pela diligente investigação desses dois escritores. Com a publicação dos resultados recebemos esse legado: documentos cujo valor ultrapassa o tempo, pois são a Palavra de Deus.
Você está disposto a investir em projetos que propiciem crescimento no conhecimento de Deus a si mesmo e a outros também? Nas palavras do pregador, uma exortação: “O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem projetos, não há conhecimento nem sabedoria”, Eclesiastes 9.10.
4.9. DIVULGAÇÃO
A Palavra de Deus é o elemento suficientemente atrativo para as pessoas irem à igreja. Mas eventualmente estão desestimuladas a se deslocar até o templo. Elas precisam saber dos esforços educativos dos membros do departamento de ensino na elaboração e apresentação de formas diferenciadas para o aprendizado.
A propaganda é uma ferramenta eficaz para divulgação. Isso não significa poluição visual, insistência, inconveniente, mas o lembrete gentil, de que algo proveitoso e útil está à disposição do público-alvo. Se a comunicação pessoal (boca a boca) ainda é o meio mais eficiente de propaganda (propaganda por indicação), o contato direto, aliado à publicidade, amplifica a divulgação. Meios de comunicação são eficazes na difusão e principalmente para relembrar as pessoas do acontecimento vindouro. “Plante de manhã a sua semente, e mesmo ao entardecer não deixe as suas mãos ficarem à toa, pois você não sabe o que acontecerá, se esta ou aquela produzirá, ou se as duas serão igualmente boas”, Eclesiastes 11.6.
Os meios de comunicação internos visam informar e relembrar os membros do círculo próximo do evento anunciado. Podem ser: boletim informativo, mural, faixas/cartazes, mídias sociais, anúncios na igreja e no datashow, mensagens pessoais. Os meios externos, alcançam ainda mais pessoas, inclusive aquelas que não fazem parte do ambiente íntimo. São jornais, revistas, anúncio de som na vizinhança, propagandas em rádio e TV, panfletagem, outdoor e divulgação pela internet. Nas plataformas visuais, o design ilustra, informa, chama atenção, massifica, o recado que se pretende passar. Mensagens textuais devem ser claras, objetivas e instigantes. O evangelho precisa ser anunciado e ai de nós se não o fizermos, I Coríntios 9.16.
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